Haiku 608

Ao subir a serra
o capim novo se arrasta
atrasando os passos.

Haiku 607

Algo diferente.
No jardim abandonado
nasce o capim novo.,

Haiku 606

Na trilha de sempre
capim novo chega aos pés
de forma macia.

KIgô da semana

Capim novo

Haiku 605

De modo contínuo
o canto do curió
esticando a tarde.

Haiku 604

Se põe a cantar
um curió prisioneiro
de um crime sem provas!

Haiku 603

Da casa vizinha
um curió mirradinho
desanda a cantar.

Kigô da semana

Curió

Haiku 602

Sem muita razão
ao fazer um cata-vento.
- O tempo se foi.

Haiku 601

Atirado ao chão
um cata-vento quebrado.
- Os meninos riem.

Haiku 600

Num sorriso largo
o cata-vento se anima
numa foto antiga.

Kigô da semana

Cata-vento

Haiku 599

Nada mais restou
senão a casa em ruínas.
- O ipê amarelo.

Haiku 598

Um vestido azul.
Ipês amarelos trazem
clima de tensão.

Haiku 597

Por cima do muro
avança o ipê amarelo.
- O mundo dos vivos.

Kigô da semana

Ipê amarelo

Haiku 596

Tantas as lembranças.
Dia de Finados chega
no cheiro de incenso.

Haiku 595

Com asas quebradas
um anjo que virou pedra!
Dia de Finados.

Haiku 594

Ao anoitecer
as velas ainda queimam.
Dia de Finados.

Haiku 593

Dia de Finados.
Espanto gatos perdidos
de cima dos túmulos.

Kigô da semana

Dia de Finados

Haiku 592

Sobre o pano branco
as gotas de sangue mancham.
Brotos de roseira.

Haiku 591

Perco no caminho
ao ver brotos de roseira.
Esqueço de mim.

Haiku 590

Broto de roseira
surgiu no jardim da frente.
Nos olhos beleza.

Kigô da semana

Broto de roseira

Haiku 589

Evito pisar
no marimbondo levado
ao vento que sopra.

Haiku 588

Marimbondo ronda
diante a face de Buda
num grande sorriso.

Haiku 587

Descem marimbondos

numa conversa ruidosa

de gritos e alardes.

Haiku 586

No mesmo lugar
a casa de marimbondo.
A casa em ruínas.

Kigô da semana

Marimbondo

Haiku 585

Num golpe de espada
aragem passa tão rente
da garganta exposta.

Haiku 584

Torcendo os bambus
aragem chega arrancando
gemidos distantes.

Haiku 583

Avança o velhinho
tropeçando na bengala.
Aragem nas costas.

Kigô da semana

Aragem

Haiku 582

A vida se foi
na fumaça que consome
colina queimada.

Haiku 581

Colina queimada.
Mudança de paisagem
demora nos olhos.

Haiku 580

Ao soprar do vento
fuligem nos carros brancos.
Colina queimada.

Kigô da semana

Colina queimada

Haiku 579

Num círculo imenso
andorinha sem fronteiras
plana com o vento.

Haiku 578

Um disparo ao longe -
As andorinhas daqui
somem de repente.

Haiku 577

Os meus olhos rodam
nos volteios da andorinha
por breve momento.

Kigô da semana

Andorinha

Haiku 576

Veste de palhaço
a invadir meio do trânsito.
Setembro engraçado.

Haiku 575

Ao chegar setembro...
Uma sensação de término
dos sonhos frustrados.

Haiku 574

Setembro demora
em caminhar em meus pés.
- O momento eterno.

KIgô da semana

Setembro

Haiku 573

Até a rouquidão
tem os seus dias contados.
Inverno fenece.

Haiku 572

Largadas num canto
as agulhas de tricô.
- Inverno fenece.

Haiku 571

Inverno fenece.
Recolhe os cacos do chão
do prato de sopa.

Kigô da semana

Inverno fenece

Haiku 570

Em golpes precisos
o som do nabo cortado
repetidamente...

Haiku 569

De volta da feira
de um lado vem a sacola
de outro lado o nabo.

Haiku 568

No nabo ralado
branco com pingo de shoyu
tão preto ficou.

Kigô da semana

Nabo

Haiku 567

O banho de sol
nos pés e também nos braços.
- Janela do enfermo.

Haiku 566

Em todo meu rosto
o banho de sol inunda
em leve carícia.

Haiku 565

Ao banho de sol

ao esticar as canelas

o mendigo acorda.

Kigô da semana

Banho de sol

Haiku 564

Num facho de luz
resiste a tarde em morrer.
- Vaso de suinã.

Haiku 563

Sob o céu azul
as suinãs em contraste
com unhas e dedos.

Haiku 562

A cor do suinã
mais vermelho do que nunca.
A tarde se põe.

Kigô da semana

Suinã

Haiku 561

No ponto distante
onde fica o cemitério.
Estrela hibernal.

Haiku 560

No vale se esconde
toda poeira do tempo.
Estrela hibernal.

Haiku 559

Estrela hibernal
companheira solitária
nas noites de insônia.

Kigô da semana

Estrela hibernal

Haiku 558

Ao final do inverno
a vela também se apaga.
Acaba o velório.

Haiku 557

Retira-se o inverno
deixando um rastro de incenso
na sala vazia.

Haiku 556

Fumaça se eleva
nesta sala de velório.
Inverno longevo.

Kigô da semana

Inverno

Haiku 555

Enquanto caminha
tremem as meias de lã
sem onde chegar.

Haiku 554

As meias de lã
de cores extravagantes
recusa o mendigo.

Haiku 553

As meias de lã
usadas em outros anos
dou destino certo.

Kigô da semana

Meia de lâ

Haiku 552

No Dia dos Pais
quem haverá de ocupar
a vaga da mesa?

Haiku 551

Um telefone atendo
no Dia dos Pais atendo.
Apenas silêncio...

Haiku 550

No Dia dos Pais
esvazio a minha mente
por alguns segundos.

Kigô da semana

Dia dos Pais

Haiku 549

De rosto tão branco
num banco espera chegar
sol de inverno breve!

Haiku 548

Ausência sentida
ao surgir o sol de inverno.
- Praça dos inválidos.

Haiku 547

No pé do mendigo
o sol de inverno desenha
pálida paisagem.

Kigô da semana

Sol de inverno

Haiku 546

Dois urubus eram
pousados num galho seco
ao entardecer.

Haiku 545

Em grandes volteios
urubu vai desenhando
círculo completo.

Haiku 544

Num campo sem dono
sobre as ossadas do boi
urubus em festa.

Kigô da semana

Urubu

Haiku 543

Nos últimos raios
sobre a lápide caídos
flores de ipê roxo.

Haiku 542

Nesta noite branca

alterando a paisagem

a cor do ipê roxo.

Haiku 541

Na curva fechada
a florada do ipê roxo.
- Mortes no passado.

Haiku 540

Ao abrir janela
num jardim arroxeado
ipês roxos surgem.

Haiku 539

Por todo caminho
a florada do ipê roxo.
Fico numa dúvida...

Haiku da semana

Ipê roxo

Haiku 538

Com tantos casacos
mal se mexe e molemente
na noite que chega.

Haiku 537

De cores berrantes
casacos do camelô
vindos de outras terras.

Haiku 536

Com cheiro de mofo
o casaco ainda esquenta
os ossos e a pele.

Kigô da semana

Casaco

Haiku 535

Pelo bosque adentro
as folhas secas farfalham
ora baixo ora alto.

Haiku 534

No rabo do vento
as folhas secas levantam
em redemoinho.

Haiku 533

No mesmo caminho
as folhas secas surgiram
na planta dos pés.

Kigô da semana

Folha seca

Haiku 532

Noite de geada.
Com um sorriso bem largo
o Buda de pedra.

Haiku 531

Noite de geada.
Pela fresta da janela
a cortina dança.

Haiku 530

Noite de geada.
As palmas da velha esposa
confortam-me agora.

Kigô da semana

Noite de geada

Haiku 529

Com rostos corados
animação também chega.
Quermesse se arrasta.

Haiku 528

Músicas de sempre
com bandeirinhas de sempre
quermesse começa.

Haiku 527

Sorriso do padre
que sonha com a reforma.
O fim da quermesse.

Kigô da semana

Quermesse

Haiku 526

Chuvisco outonal
desmanchando a maquilagem
do artista de rua.

Haiku 525

Chuvisco outonal.
Um frescor a rebater
no rosto rugoso.

Haiku 524

Chuvisco outonal.
Resfrio a minha cabeça
ao espantar fantasmas.

Kigô da semana

Chuvisco outonal

Haiku 523

Um desconhecido
me dá uma laranja-lima
com sorriso brando.

Haiku 522

Ao sorver nos dentes

laranja-lima tão doce

esqueço a tristeza.

Haiku 521

De casca tão fina
aliso a laranja-lima.
Hesito em cortar.

Kigô da semana

Laranja-lima

Haiku 520

Diante da foto
tarde outonal carregou
as velhas lembranças.

Haiku 519

Um silêncio longo.

A tarde outonal avança

nas palmas unidas.

Haiku 518

Batendo bengala
a tarde outonal caminha
nos passos do velho.

Kigô da semana

Tarde outonal

Hailku 517

Da caixa de figo
o preço que vai subindo
em tempos de falta.

Haiku 516

Pássaros que chegam
indiferentes aos gritos.
Os figos maduros.

Haiku 515

Com os dentes móveis
o figo saboreado.
Sorri a vovó.

Kigô da semana

Figo

Haiku 514

A esposa mais jovem

confunde-se com as filhas

no Dia das Mães.

Haiku 513

Na casa vazia
comemoro nas lembranças
o Dia das Mães.

Haiku 512

Um incenso apenas
afastando a solidão.
Dia das Mães chega.

Kigô da semana

Dia das Mães

Haiku 511

Estrela cadente.
Num piscar deixei passar
sessenta e dois anos.

Haiku 510

Ao riscar lá em cima
estrela cadente agora
paro de pedir.

Haiku 509

As mãos apertadas
dos velhinhos que contemplam
estrela cadente.

Kigô da semana

Estrela cadente

Haiku 508

Primeiro de Maio.
Gritando palavras de ordem
a marcha prossegue.

Haiku 507

Primeiro de Maio.
Para quem não tem trabalho
sobrou zombaria.

Haiku 506

Primeiro de Maio.
Os tempos duros chegaram
na mesa dos pobres!

Kigô da semana

Primeiro de Maio

Haiku 505

O que faz parado
o louva-a-deus em perigo.
- Ciscar das galinhas.

Haiku 504

Chega devagar
entre as folhas que caminham
louva-a-deus tão verde.

Haiku 503

Louva-a-deus a vista.
Sem despertar interesse
menino desdenha.

Kigô da semana

Louva-a-deus

Haiku 502

Bem cedo no parque
o vento outonal passeia
nas pernas que avançam.

Haiku 501

Calafrio sucumbe

na perna com reumatismo

ao vento outonal.

Haiku 500

Atravessa a rua
o vento outonal com pressa.
Cachorro sarnento.

Kigô da semana

Vento outonal

Haiku 499

No jardim sobrou
o manacá que cuidava.
Agora cuido eu.

Haiku 498

Tão roxas ficaram
as flores do manacá
por cima dos túmulos.

Haiku 497

No sopé da serra
as flores de manacá
sobre o gato morto.

Kigô da semana

Manacá

Haiku 496

Em meio ao silêncio
o sussurro dos poetas.
Acanhada lua.

Haiku 495

Enquanto procuro
nada da lua surgir.
Escureço os olhos.

Haiku 494

Na falha das nuvens
surgiu a lua tão branca.
- Pó de arroz no rosto.

Kigô da semana

Lua

Haiku 493

No santo barroco
a Semana Santa chega
nos olhos de vidro.

Haiku 492

Na Semana Santa
as velas votivas vão
nas mãos tremulando

Haiku 491

Nos caminhos tortos
a Semana Santa passa.
Passa os peregrinos.

Kigô da semana

Semana Santa

Haiku 490

Início de outono.
As paredes mais escuras
ao entardecer.

Haiku 489

Retomo às visitas
das igrejas do caminho.
Início de outono.

Haiku 488

Com água e sabão

a lápide fica limpa.

Início de outono. 

Kigô da semana

Início de outono

Haiku 487

O tucano além
das grades que nos separam.
A vida prossegue.

Haiku 486

Ao ver o tucano
uma estranha sensação.
- Pássaro esquisito!

Haiku 485

Com bico tão grande
o tucano se acomoda
dentro da gaiola.

Kigô da semana

Tucano

Haiku 484

Seguindo a parede
a lagartixa se mexe.
As manchas se mexem.

Haiku 483

Lagartixa passa
sinuosa pelo chão.
- A vida arrastada.

Haiku 482

Ao chegar mais cedo
apenas a lagartixa
vem ao meu encontro.

Kigô da semana

Lagartixa

Haiku 481

Ao chutar a pedra
um rastejar nos ouvidos...
Noite de verão.

Haiku 480

Sorriso de Buda
penetra fundo no tempo.
Noite de verão.

Haiku 479

Noite de verão.
Nunca tinha reparado
as rugas da esposa.

Kigô da semana

Noite de verão

Haiku 478

No vaso quebrado
copos-de-leite agradam
tristes e  os  alegres.

Haiku 477

Próximo à janela
vaso de copo-de-leite
nos olhos mergulham.

Haiku 476

No túmulo pobre
galho de copo-de-leite
tão desconhecido.

Kigô da semana

Copo-de-leite

Haiku 475

As frase de amor
ecoam só na lembrança.
Folia de Momo.

Haiku 474

Folias de Momo
são fagulhas do passado
que perderam o encanto.

Haiku 473

Folias de Momo
estampadas no jornal
tão repetitivos.

Kigô da semana

Folia de Momo

Haiku 472

Tem traíra em casa
convida-me para o almoço.
- Só coço a cabeça.

Haiku 471

Traíra aprecio

sem nunca ter visto o bicho.

Frito com azeite.

Haiku 470

Somente traíras
neste pedaço do lago.
Desisto da pesca.

Kigô da semana

Traíra

Haiku 469

Após despedida.
Suor e lágrimas descem
do rosto contrito.

Haiku 468

Grudando no pano
o suor que vai marcando
formas generosas.

Haiku 467

Debaixo do sol
o suor penetra fundo
no rosto desfeito.

Kigô da semana

Suor

Haiku 646

Descascando lento
a casca do abacaxi
velha sonhadora.

Haiku 645

Após sobremesa
o gosto de abacaxi
nos lábios palpita.

Haiku 644

Balança de um lado
sacola do abacaxi
enquanto caminha.

Kigô da semana

Abacaxi

Haiku 643

Por cima das pedras
cascavel exibe a pele.
Escamas ao sol.

Haiku 642

Apenas o guizo
sem poder ver cascavel
o arrepio se espalha.

Haiku 641

Enquanto caminho
a cascavel esmagada
retarda meus passos.

Kigô da semana

Cascavel

Haiku 640

Chuva de verão.
As fotos antigas rasgo
sem utilidade.

Haiku 639

Chuva de verão.
Os poemas que escrevi
com carvão no chão.

Haiku 638

Mal cuidados surgem
aos montes ervas daninhas.
Chuva de verão.

Kigô da semana

Chuva de verão

Haiku 637

Somente a barata
entrando na velha casa
sem convite algum.

Haiku 636

Ao chegar mais tarde
as baratas caminhando
nas louças tão brancas.

Haiku 635

Uma nova dança
inaugura a faxineira.
Baratas em fuga.

Kigô da semana

Barata

Haiku 634

Da areia soprada
também a batata frita.
Espera o Ano Novo.

Haiku 633

O vendedor de óculos
deixou a terra distante.
Ano Novo chega.

Haiku 632

Ano Novo chega
no cálice da champanhe.
No beijo molhado.

kigô da semana

Ano novo

Haiku 631

Enchendo a barriga
Papai Noel se despede.
Volta o desemprego.

Haiku 630

Na falta de balas
Papai Noel se retira
na ponta dos pés.

Haiku 629

Com presente ganho
foto com Papai Noel
só de mentirinha.

Kigô da semana

Papai Noel