terça-feira, 18 de novembro de 2014

Haiku 194

Paro por momentos.
No fundo dos meus ouvidos
canário-da-terra.

Haiku 193

Canário-da-terra.
Sem poder ouvir meu pai
as paredes cantam.

Haiku 192

Canário-da-terra
por quê canta tanto assim
preso na gaiola?

Kigô da semana

Canário-da-terra

Haiku 191

Sobre as águas límpidas
um colibri dança acima
outro dança abaixo.

Haiku 190

Olhos ariscos
mais arisco o colibri
que ninguém mais viu.

Haiku 189

Riscou neste instante
colibri sem pressa alguma
nestes olhos lentos.

Kigô da semana

Colibri

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Haiku 185

Passam de repente
nos olhos as andorinhas.
- Quase sessenta anos.

Haiku 184

Favela amanhece
com andorinha a riscar
olhos do menino.

Haiku 183

Debaixo da curva
dos arcos da velha ponte
andorinha cruza.

Kigô da semana

Andorinha

Haiku 182

Por entre as estrelas
da lagoa refletida
girinos navegam.

Haiku 181

Nada em derredor
que me lembre os velhos tempos.
Girinos circundam.

Haiku 180

As águas profundas.
Girinos em profusão
girando nos olhos.

Kigô da semana

Girino

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Haiku 179

Caixa do correio
aberta pela manhã.
Voeja um marimbondo.

Haiku 178

As patas rastejam.
Marimbondo do outro lado
do vidro translúcido.

Haiku 177

Marimbondo morto
encontrado no caminho.
- Oro bem baixinho.

Kigô da semana

Marimbondo

Haiku 176

Na falta de flores
alcachofras da cozinha
no centro da mesa.

Haiku 175

De pétala em pétala
alcachofra se revela.
Amigos à mesa.

Haiku 174

Alcachofras postas
numa panela com água.
- Um vaso de flores.

Kigô da semana

Alcachofra

Haiku 173

Pela madrugada
no varal as roupas íntimas.
O gato em amor.

Haiku 172

Enquanto amanhece
miados um tanto fraco.
O gato em amor.

Haiku 171

Num miado grosso
gato em amor pela noite
chama companhia.

Kigô da semana

Gato em amor

Haiku 170

Aragem nos pés
na curva do cruzamento.
- Tempo de mudança.

Haiku 169

Ao passar aragem
pelos muros encardidos
as tristezas vão.

Haiku 168

Um soprar cortante.
Aragem arrepiando
os pelos da nuca.

Kigô da semana

Aragem

Haiku 167

Sabiá de novo.
Tanto tempo se passou
que vovó se foi.

Haiku 166

Por breve momento
cabeça do sabiá
sobressai-se nas calhas.

Haiku 165

Saltita em meus olhos
a manhã que se inicia.
Único sabiá.

Kigô da semana

Sabiá

domingo, 14 de setembro de 2014

Haiku 164

Inverno se vai.
Com a cara envelhecida
quem me olha no espelho?

Haiku 163

Ponho a casa em ordem
limpando o teto das teias.
Inverno se vai.

Haiku 162

Inverno se vai.
O rangido do portão
tem algum encanto...

Kigô da semana

Inverno se vai

Haiku 161

Ao abrir a janela
poinsétias saltam aos olhos.
- O mundo é vermelho.

Haiku 160

Distraidamente
de manhã os olhos vermelhos.
Poinsétias florescem.

Haiku 159

Sempre neste mês
um corredor de poinsétias.
Velho cemitério.

domingo, 7 de setembro de 2014

Kigô da semana

Poinsétia

Haiku 158

Queimando nas árvores
as flores de mulungu.
O céu mais azul.

Haiku 157

Os olhos vermelhos.
Mulungus diante à janela
ao sol da manhã.

Kigô da semana

Mulungu

Haiku 156

Agosto presente
na lataria do carro.
- Sinais de ferrugem.

Haiku 155

Agosto ao final.
Nada que assustasse tanto
com passar dos dias.

Haiku 154

Ao chegar agosto
com o mal humor de sempre
o velho gagá.

Kigô da semana

Agosto

Haiku 153

Durante a partilha
só ficou o cobertor
com o cheiro dela.

Haiku 152

Os recém nascidos
envoltos num cobertor.
Miados de fome.

Haiku 151

Sobre os joelhos
o cobertor de presente.
- Casa de Repouso.

Kigô da semana

Cobertor

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Haiku 150

Na ausência dos filhos
os filhos da nova esposa
no Dia dos Pais.

Haiku 149

No Dia dos Pais
espano o velho retrato
que nunca envelhece.

Haiku 148

No Dia dos Pais
primeira ausência sentida
na vaga da mesa.

Kigô da semana

Dia dos Pais

Haiku 147

Secura de inverno
corroendo a pele branca
dos pés do mendigo.

Haiku 146

Secura de inverno.
Na loja de móveis velhos
um cheiro de mofo.

Haiku 145

Da fresta da porta
recolho a multa do mês.
Secura de inverno.

Kigô da semana

Secura de inverno

Haiku 144

Em noite gelada
que fazer com a cabeça
ausente de pelos?

Haiku 143

Mendigo se cobre
ao chegar noite gelada
com jornais e trapos.

Haiku 142

Em noite gelada
pés que procuram os meus
debaixo da mesa.

Kigô da semana

Noite gelada

terça-feira, 22 de julho de 2014

Haiku 141

Vento uivante passa
por cima do ferro velho.
- A vida passando.

Haiku 140

Ao cruzar a esquina
o vento uivante de súbito
faz parar o cego.

Haiku 139

Pelas calhas velhas
o vento uivante ligeiro
chega ao fim do dia.

Kigo da semana

Vento uivante

Haiku 138

Com a vara longa
colhe as pitangas do lado
além destes muros.

Haiku 137

Também para o Buda
uma pitanga apenas.
Sorriso na foto.

Haiku 136

Pitangas maduras.
O cheiro de antigamente
em nada mudou.

Kigo da semana

Pitanga

Haiku 135

Ao canto do sutra
chuva de inverno prossegue
por cima do lápide.

Haiku 134

Num bater monótono
a chuva de inverno chega
na porta de casa.

Haiku 133

A chuva de inverno
arrastando-se nos pés
sem um rumo certo!

Kigo da semana

Chuva de inverno

terça-feira, 1 de julho de 2014

Haiku 132

Num sorriso largo
as mãos enrugadas ganham
as meias de lã.

Haiku 131

As meias de lã
retornam à cabeceira
ao chegar a noite.

Haiku 130

As meias de lã.
Depois da partida dela
única lembrança.

Kigo da semana

Meia de lã

Haiku 129

Pela manhãzinha
os ipês roxos pisados
na trilha de sempre.

Haiku 128

De roxo tingiu-se
ipê roxo na florada.
Acima e no chão.

Haiku 127

Por momentos paro
diante do chão de ipê roxos.
Estes pés malditos.

Kigo da semana

Ipê roxo

Haiku 126

A gosma de quiabo
na colher que leva à boca.
Suspira mamãe.

Haiku 125

A quiabo lavado
passeia entre os dedos.
A casa vazia.

Haiku 124

A sopa de quiabo
por entre os dentes postiços
a alegria surge.

Kigô da semana

Quiabo

Haiku 123

Meu torrão natal
sem ninguém pra conversar.
As nuvens de outono.

Haiku 122

As nuvens de outono
num instante se desfazem
nos olhos dispersos!

Haiku 121

A vida tão curta
num sonho de sessenta anos.
As nuvens de outono.

kigo da semana

Nuvem de outono

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Haiku 120

"Pamonha" gritou.
Eis que surge de relance
com a cesta cheia.

Haiku 119

Cozinho a pamonha
a maneira da vovó.
- Gosto de saudade.

Kigo da semana

Pamonha

Haiku 118

Orquídeas deixadas
aos pés do santo do altar.
Olhares suspeitos.

Haiku 117

Deixou no quintal
orquídea que ela gostava.
Tempo de esquecer.

Haiku 116

Um vaso de orquídeas
num quintal de ferro velho
a tarde escurece.

Kigo da semana

Orquídea

domingo, 27 de abril de 2014

Haiku 106

Na cortina branca
o clarão da lua agita
suave carícia.

Haiku 105

Somente a ferrugem
alastrando-se no carro.
- O clarão da lua.

Haiku 104

Nos olhos do sapo
o mundo inteiro presente.
- O clarão da lua.

Kigô da semana

Clarão da lua

Haiku 103

Da oferta que havia
das laranjas lima a Buda
quem foi que roubou?

Haiku 102

No mesmo lugar
laranjas lima vendidas
em minha passagem.

Haiku 101

De casca tão fina
laranja lima nas mãos
da jovem senhora.

Kigô da semana

laranja lima