Haiku 628

Ao sair recebe
uma cesta de natal
o novo empregado.

Haiku 627

Ao cair da noite
num trem lotado carrega
cesta de natal.

Haiku 626

Na casa vizinha
a cesta de natal chega.
A velha solteira.

Kigô da semana

Cesta de Natal

Haiku 625

Dezembro chegou.
Nada muito diferente
daquele passado.

Haiku 624

Os dias bons lembro
os maus procuro esquecer.
Dezembro em repouso.

Haiku 623

Sensação de sempre.
Dezembro chega com dúvidas
de não ter vivido.

Haiku da semana

Dezembro

Haiku 622

A lua nublada.
Vejo no rosto da esposa
o tempo passando...

Haiku 621

A lua nublada.
Novamente erro o caminho
de minha morada.

Haiku 620

A lua nublada.
Ao chegar aos sessenta anos
nenhum desespero.

Kigô da semana

Lua nublada

Haiku 619

Rosto refletido
desconhece completamente.
A noite vernal.

Haiku 618

Na noite vernal
um mendigo enlouquecido
rabisca poemas.

Haiku 617

De olhar distanciado
da janela para o mundo.
A noite vernal.

Kigô da semana

Noite vernal

Haiku 616

Pernas arranhadas

revelam ladrão da noite.

Roseiras vermelhas.

Haiku 615

De manhã percebo
roseiras pisoteadas.
- Sinto mau presságio.

Haiku 614

Vasos de roseira
enfeitam o velho túmulo.
- Brancas e vermelhas.

Kigô da semana

Roseira

Haiku 613

Vento sorrateiro
sobre o túmulo que arranha
galhos do salgueiro.

Haiku 612

Diante de casa
salgueiro de tanto tempo
mais verde que nunca.

Haiku 611

Depois da partida
retorno de vez em quando.
Salgueiro tão vivo.

Kigô da semana

Salgueiro

Haiku 610

A vida começa
no portão do cemitério.
- Filhotes de gato.

Haiku 609

Os velhos sem filhos.
No parque também deixados
filhotes de gato.

Haiku 608

Filhotes de gato
a mãe gata a proteger.
- Meninos de rua.

KIgô da semana

Filhote de gato

Haiku 607

Pelo capim novo
estende a roupa lavada.
A vida no sítio.

Haiku 606

Após caminhar
nos olhos o capim novo
pelo pasto adentro.

Haiku 605

De súbito vejo
meus pés calcarem macio
todo capim novo.

Kigô da semana

Capim novo

Haiku 604

Um sorriso breve

no rosto do cadeirante.

Sabiá só brinca.

Haiku 603

Chega em meu silêncio
o sabiá de mansinho
cada vez mais perto.

Haiku 602

Sabiá me ensine
a viver este momento...
Respiro bem fundo,.

Kigô da semana

Sabiá

Haiku 601

Ao cair da tarde
o rodar dos cataventos.
Cemitério dorme.

Haiku 600

Domingo no parque.
Vendedor de catavento
tão fora de moda.

Haiku 599

No lugar de sempre
a lembrança que ficou.
Catavento à venda.

Kigô da semana

Catavento

Haiku 598

Os pratos vazios.
Antes as jabuticabas
aos olhos soltavam.

Haiku 597

Sentir a textura
ao rolar por entre os dentes
a jabuticaba.

Haiku 596

Os olhos daquela
da cor de jabuticaba
degusto tão doce.

Kigô da semana

Jabuticaba

Haiku 595

Céu avermelhado.
Enquanto a noite não chega
queimada no pasto.

Haiku 594

Com olhos de fogo
um agricultor parado...
A queimada avança.

Haiku 593

Queimada prossegue
transformando tudo em cinzas.
E minhas lembranças?

Kigô da semana

Queimada

Haiku 592

Canário-da-terra.
Na ausência de quem me deu
deixei bater asas.

Haiku 591

Levado até a praça
canário-da-terra assiste
passeio de velhos.

Kigô da semana 590

Canário-da-terra
no pomar de minha avó.
O canto ficou.

Kigô da semana

Canário-da-terra

Haiku 589

Inverno fenece,
Tempo de banho no cão
que também me banha.

Haiku 587

Viúva que passa
deixou as cores escuras.
Inverno fenece.

Haiku 586

Inverno fenece.
Os mendigos aumentaram
em minha passagem.

Kigô da semana

Inverno fenece

Haiku 585

Nas palmas recolhe
uma porção de pitangas.
Visita dos netos.

Haiku 584

Aspiro bem fundo
pitangas do muro ao lado.
Cheiro de memória.

Haiku 583

Pitangas vermelhas
penetram em meus sentidos.
Os lábios de Laura.

Kigô da semana

Pitanga

Haiku 582

Com a casa cheia
no Dia dos Pais recebe
seus filhos e os dela.

Haiku 581

No Dia dos Pais
padrasto sem próprio filho
também comemora.

Haiku 580

Ao final da tarde
no Dia dos Pais sem graça
alguém bate a porta.

Kigô da semana

Dia dos Pais

Haiku 579

Os gorros de lã
acordam com a manhã
na banca da rua.

Haiku 578

Mete na cabeça
gorro de lã colorido
menina de tranças.

Haiku 577

Enfiado ao fundo
o gorro de lã oculta
as rugas recentes.

Kigô da semana

Gorro de lã

Haiku 576

A bosta da vaca
num campo de relva seca
acabou secando.

Haiku 595

Nos olhos tristeza
diante da relva seca
ao mascar o fumo.

Haiku 594

Por toda planície
a relva seca se estende..
Cabelos grisalhos.

Kigô da semana

Relva seca

Haiku 593

Enquanto caminho

são os olhos da coruja

que também caminham.

Haiku 592

Na penumbra surge
uma sombra da coruja
com olhos profundos.

Haiku 591

À noite outros olhos
não se importam em fechar.
A coruja atenta.

Kigô da semana

Coruja

Haiku 590

Ao abrir janela
o calor na pele anêmica
na manhã de inverno.

Haiku 589

O cachorro velho
disputa um lugar ao sol.
A manhã de inverno.

Haiku 588

Tudo passageiro.
Nas manhãs de inverno sente-se
a pele enrugada.

Kigô da semana

Manhã de inverno

Haiku 587

Recolho nas palmas

florescência do ipê roxo.

O roxo do mundo.

Haiku 586

Nos pés do soldado
ipê roxos espalhados
também montam guarda.

Haiku 585

Flores do ipê roxo
na caneca do mendigo
num soprar do vento.

Kigô da semana

Ipê roxo

Haiku 584

Pelas mãos geladas
o inverno também passou.
Lava roupa suja.

Haiku 583

Na noite de inverno
baque seco da descarga
chega fundo na alma.

Haiku 582

Num inverno assim
no rosto alegre da avó
foi-se o encantamento.

Kigô da semana

Inverno

Haiku 581

Colher de madeira
mexe e remexe a canjica.
- Tão escura a noite.

Haiku 580

Por breve momento
a conversa interrompida.
A canjica dura.

Haiku 579

Os dentes esmagam
em cadência demorada
os grãos de canjica.

Kigô da semana

Canjica

Haiku 578

Nunca foi tão útil
a velha blusa rasgada.
Sereno ligeiro.

Haiku 577

Nos olhos cansados
o sereno a vacilar
tamanha tristeza.

Haiku 576

Enquanto medito
mantenho o coração quente.
Sereno a cair.

Kigô da semana

Sereno

Haiku 575

Um tanto rugosa
tal qual cabeça de Buda.
- A fruta-de-conde.

Haiku 574

De polpa tão doce
fruta-de-conde madura
exposta na banca.

Haiku 573

De casca grosseira
as rugas que me surgiram.
- A fruta-de-conde.

Kigô da semana

Fruta-de-conde

Haiku 572

Quanto se passou
desde que deixei de ouvir
cigarras de outono?

Kigô 571

Caídas na terra
cigarras de outono à noite.
Evito os atalhos.

Haiku 570

Cigarras de outono
suas vidas passaram.
A minha também.

Kigô da semana

Cigarra de outono

Haiku 569

Assim encontrei

o vaso de flor-de-maio

rachado do lado.

Haikun 568

Ao limpar canteiro

as flores-de-maio encontro

tolhidas no canto.

Haiku 567

O que me remete
flores-de-maio no vaso
ao cair da tarde?

Kigô da semana

Flor-de-maio

Haiku 566

Ao riscar relâmpago
os braços que procurava
distantes ficaram.

Haiku 565

Sem ninguém por perto
agarra-se com o gato.
Relâmpago risca.

Haiku 564

Lá fora o relâmpago,
Sem incomodar vovó
agulhas trabalham.

Kigô da semana

Relâmpago

Haiku 563

Nenhuma visita

na casa em que fui criado.

Dia das Mães finda.

Haiku 562

No esvair dos anos
Dia das Mães comemora
como fosse a última.

Haiku 561

Passa devagar

Dia das Mães neste dia

no incenso que queima.

Kigô da semana

Dia das Mães

Haiku 560

No banco da praça
parados no tempo os velhos.
- O vento de outono.

Haiku 559

O que prenuncia
o vento de outono rápido
nos cabelos brancos?

Haiku 558

Ligeiro levanta.
O vento de outono chega
na saia das moças.

Kigô da semana

Vento de outono

Haiku 557

Espetando os dedos
no olho vivo das sardinhas
as freguesas surgem.

Haiku 556

Com olhos abertos
não se importa mais sardinha
das dores do mundo.

Haiku 555

Com preço mais baixo
ao final da feira tem
sardinha na banca.

Kigô da semana

Sardinha

Haiku 554

Enfeitando a banca
as goiabas em fileira.
As unhas machucam.

Haiku 553

Ao passar diante
do altar dos antepassados
goiabas das grandes.

Haiku 552

O sabor de então

ao mastigar a goiaba.

Minha mãe, meu pai.

Kigô da semana

Goiaba

Haiku 551

Sexta-feira Santa.
Uma tristeza sentida
nos olhos do santo.

Haiku 550

Sexta-feira Santa
padece pela calçada
o velho sem filhos.

Haiku 549

Sexta-feira Santa.
O meu pai se despedindo
de mão levantada.

Kigô da semana

Sexta-feira Santa

Haiku 548

Ao chegar mais perto
a libélula se foi.
Nem tenho mais sonhos.

Haiku 547

À casa retorno
quando chegam as libélulas.
Minha avó nas asas.

Kigô 546

Na tarde enfadonha
duas libélulas brincam
nas poças de lama.

Kigô da semana

Libélula

Haiku 545

No altar da capela
início de outono passa
na chama que queima.

Haiku 544

Rabisco poemas

num papel que vou jogar.

Início de outono.

Haiku 543

Num incenso posto

perfuma o início de outono.

Meus vivos que foram-se.

Kigô da semana

Início de outono

Haiku 542

Nesta noite longa
a xícara de jasmim
suave derrama.

Haiku 541

Ao queimar incenso
pela noite longa chegam
os sonhos que esqueço.

Haiku 540

Cai a noite longa
por cima dos cemitério.
As últimas chamas.

Kigô da semana

Noite longa

Haiku 539

Arrepia a espinha
ao tocar a lagartixa.
Faxina no armário.

Haiku 538

Nos olhos sem brilho
a lagartixa vislumbra
o farto jantar.

Haiku 537

Um passo pra atrás.
Lagartixa em meu caminho
mas peço licença.

Kigô da semana

Lagartixa

Haiku 536

Ao ler o romance
alguém leu antes de mim.
Os sinais da traça,

Haiku 535

Os furos miúdos
de uma traça do passado
ainda incomoda.

Haiku 534

As fotos antigas
carcomidas pelo tempo
a traça comeu.

Kigô da semana

Traça

Haiku 533

Nas lentes de novo
do míope que se incomoda
o suor escorre.

Haiku 532

Na blusa colada
o suor vai revelando
as formas cobertas.

Haiku 531

O suor percorre
as trilhas da natureza
pela testa exposta.

Kigô da semana

Suor

Haiku 530

Mal a noite chega

pelos becos foliões

exibem as cores.

Haiku 529

Na velha canção
folião não perde tempo.
- Lembranças da avó.

Haiku 528

Tempo de escassez.
Com o vestido da esposa
folião na rua.

Kigô da semana

Folião

Haiku 527

Após a picada
pernilongo satisfeito
sem voar direito.

Haiku 526

Em plena careca
o monge deixa descer
pernilongo magro.

Haiku 525

Com as mãos juntas
ora ao pernilongo morto.
- As mãos assassinas.

Kigô da semana

Pernilongo

Haiku 524

Diante do sol
a garça na tarde passa
com asas cruzadas.

Haiku 523

Preparando o voo
asas brancas a agitar
a garça se alonga...

Haiku 522

Adiante a garça
nos recifes que encalharam
velhos caiçaras.

Kigô da semana

Garça

Haiku 521

Ao subir ladeira
nas mãos antúrio balança.
O peso da idade.

Haiku 520

Antúrio que havia
no corredor sem portão
foi-se com a noite.

Haiku 519

Túmulo quebrado.
Vaso quebrado de antúrio
enfeita o abandono.

Kigô da semana

Antúrio

Haiku 518

Aguaceiro vem.
Não trabalha o camelô
que espera sentado.

Haiku 517

O corpo marcado
por trás do vestido leve.
Súbito aguaceiro.

Haiku 516

Os sapatos novos.
Aguaceiro sem aviso
desaba de vez.

Kigô da semana

Aguaceiro

Haiku 515

Deixados na banca
os abacaxis molhados
em dias instáveis.

Haiku 514

Exibe na banca
abacaxi com coroa.
- Um conto infantil.

Haiku 513

Aos antepassados
fatio um abacaxi.
- Vida passageira.

Kigô da semana

Abacaxi

Haiku 512

Os olhos profundos.
Cascavel por um momento
parado no tempo.

Haiku 511

Nos ouvidos guizo
anuncia o cascavel.
Caminho de costas.

Haiku 510

Enrolado ao sol
o cascavel nem se move.
Sigo meu trajeto.

Kigô da semana

Cascavel

Haiku 509

O mundo se move.
Nuvens de verão presente
em meus olhos míopes.

Haiku 508

Nuvem de verão.
Em que lugar se escondeu
o meu carneirinho?

Haiku 507

Nuvem de verão.
Se eu subir naquele prédio
recolho nas mãos.

Kigô da semana

Nuvem de verão

Haiku 506

Tantos Reveillons
vividos na mesma praia.
- Um sonho tão fluido.

Haiku 505

Em tempos de crise
vendedor de rosas brinda
Reveillon tão próximo.

Haiku 504

Vestidos de branco
velas brancas e vermelhas.
Reveillon na praia.

Kigô da semana

Reveillon