Haiku 503

Em tempos de vendas
o Papai Noel se esforça
um sorriso branco.

Haiku 502

Não foi desta vez.
O Papai Noel se foi
ao final das vendas.

Haiku 501

Também tem direito
de receber o salário
Papai Noel magro.

Kigô da semana

Papai Noel

Haiku 500

Noite de natal.
As músicas de sucesso
ficaram caducas.

Haiku 499

Na festa dos outros
há sempre lugar à mesa.
Natal comemora.

Haiku 498

Noite de natal.
A vizinha carrancuda
recebe visita.

Kigô da semana

Natal

Haiku 497

Meus sonhos se foram.
Rebenta-se num clarão
bolha de sabão.

Haiku 496

Bolhas de sabão
ainda encantam crianças?
Nem pais nem avós.

Haiku 495

Ao subir ladeira
a bolha de sabão cruza;
Um féretro passa.

Kigô da semana

Bolha de sabão

Haiku 494

A manhã se faz.
Radiantes folhas novas
ao raio do sol.

Haiku 493

Em tempo de verde
despontam-se as folhas novas
cheias de esperanças.

Haiku 492

Algo se renova.
Folhas novas pela serra
em meus olhos míopes.

Kigô da semana

Folha nova

Haiku 491

Ao céu da cidade
andorinhas em voo pleno
desconhecem muros.

Haiku 490

Contornando a torre
andorinha ao entardecer
às vezes a sombra!

Haiku 489

Andorinha foi-se.
Também foi-se a juventude
no rosto de cera.

Kigô da semana

Andorinha

Haiku 488

Empina o quadrado.
Num céu de azul tão profundo
remendo vermelho.

Haiku 487

Na torre da igreja
súbito risca um quadrado
num bailado alegre.

Haiku 486

Ao empinar quadrado
nenhum pensamento existe.
O menino de ontem.

Kigô da semana

Quadrado

Haiku 485

Da casa do lado
o canto do bem-te-vi
tão convidativo.

Haikun 484

Sozinho também
bem-te-vi nos laranjais.
- Somos dois agora.

Haiku 483

Ao sol da manhã
o canto do bem-te-vi
tão quente nos pelos.

Kigô da semana

Bem-te-vi

Haiku 482

Dia de Finados.
Ninguém para visitar
na terra natal.

Haiku 481

Dia de Finados.
Muitos amigos se foram
poucos se formaram.

Haiku 480

Chega logo a noite.
Dia de Finados finda
nas últimas chamas.

Kigô da semana

Dia de Finados

Haiku 479

Ao pousar a vespa
com pedaço de madeira
torno-me demônio.

Haiku 478

Muitas as picadas.
Não se cansa de brincar
ao chegar a vespa.

Haiku 477

Antes de morrer
a vespa deixa um sinal.
- As dores da vida.

Kigô da semana

Vespa

Haiku 476

Roupas coloridas
a seguir féretro acima.
Céu de primavera.

Haiku 475

Invade a janela
céu de primavera imensa.
Respiração fraca!

Haiku 474

Ao levantar olhos
no céu de primavera ando
na ponta dos pés.

Kigô da semana

Céu de primavera

Haiku 473

A tarde se põe.
O tempo quase parado
nos olhos da rã.

Haiku 472

Ao se aproximar
num átimo a rã se foi.
Meus olhos tão lentos.

Haiku 471

Coaxar das rãs
numa cadência monótona.
O sono profundo.,.

Kigô da semana

Rã

Haiku 470

Nos olhos tão tristes

surgem brotos de roseira

trazendo esperança?

Haiku 469

Após tempestade
brotos de roseira trazem
tempos de estiagem.

Haiku 468

Nos galhos de espinho
ninguém toca apenas olha
brotos de roseira.

Kigô da semana

Broto de roseira

Haiku 467

Enquanto suspira
primavera se aproxima
na janela aberta.

Haiku 466

Ao chegar agora
primavera em minhas rezas
a tristeza foi-se.

Haiku 465

Primavera vem.
A cruzeta sem o braço
no túmulo antigo.

Kigô da semana

Primavera

Haiku 464

Antes de plantar
o homem sopra nas sementes
palavras secretas.

Haiku 463

Nas mãos da vovó
as semente germinavam.
Nas minhas saudade.

Haiku 462

Da terra bem fofa
a semente há de vingar.
Mãos em oração.

Kigô da semana

Semente

Haiku 461

Os meus pais se foram.
Sobrou apenas você
sabiá vadio.

Haiku 460

De relance vejo
o sabiá que aterriza
acima do túmulo.

Haiku 459

Ao varrer jardim
paro por alguns segundos.
Canto o sabiá.

Kigô da semana

Sabiá

Haiku 458

Em tempos difícies
sem festa o Dia da Pátria.
Lavo os meus ouvidos.

Haiku 457

Os cães da madames
desfilam pela calçada
no Dia da Pátria.

Haiku 456

Meninos sem pais
também querem ir ao shopping
no Dia dos Pátria.

Kigô da semana

Dia da Pátria

Haiku 455

Da janela do ônibus
o vento frio me acompanha.
Volto à minha terra.

Haiku 454

Por cima dos túmulos
vento frio a levantar
as cinzas do tempo.

Haiku 453

Gemido lá fora
do cachorro acorrentado.
Vento frio na noite.

Kigô da semana

Vento frio

Haiku 452

Comendo em silêncio.
Som produzido nos dentes
do nabo esmagado.

Haiku 451

Com a boca aberta
mastiga nabo em conserva...
Reclamação chega.

Haiku 450

O nabo ralado
arde fundo na garganta.
- A velhice chega.

Kigô da semana

Nabo

Haiku 449

Retiro do teto
o mofo que lá ficou.
- O Dia dos Pais.

Haiku 448

No Dia dos Pais
a madrasta também ganha
um beijo formal!

Haiku 447

Um incenso apenas
arde no altar dos antigos.
- O Dia dos Pais.

Kigô da semana

Dia dos Pais

Haiku 446

Na rua em que passo
agosto sinto no cheiro
de urina de gato.

Haiku 445

Agosto me traz
momento de despedida
da palma acenando!

Haiku 444

Noites em agosto.

A descarga do banheiro

num baque tão seco.

Kigô da semana

Agosto

Haiku 443

A vida sem cor
penetrou fundo nos olhos.
Morre o capim seco.

Haiku 442

A tarde se estica.
No pasto de capim seco
o berro de boi.

Haiku 441

À casa retorno.
No jardim o capim seco
nem chego a assustar.

Kigô da semana

Capim seco

Haiku 440

Da janela assiste
ipê rosa a despencar.
Leito de hospítal.

Haiku 439

À sombra sentado

o mendigo nem se importa.

Ipê rosa cai.

Haiku 438

Na campa rachada

ipê rosa coloriu.

- Os primeiros raios.

Kigô da semana

Ipê rosa

Haiku 437

As cartas da mãe
que se foi no ano passado.
Geada passageira.

Haiku 437

Os olhos sem luz
do pequeno produtor.
O branco da geada.

Haiku 436

Em noite de geada
com olhos esbugalhados
mendigo sem sono.

Kigô da semana

Geada

Haiku 435

Com gato no colo
a cadeira de balanço
no banho de sol.

Haiku 434

Ao banho de sol
corando o rosto antes pálido.
Quarto de hospital.

Haiku 433

Por momentos paro
espantando toda a angústia
ao banho de sol.

Kigô da semana

Banhos de sol

Haiku 432

Ao velho mendigo
oferto a touca de lã
que me foi tão caro.

Haiku 431

Após tanto tempo
touca de lã novamente
traz tanta alegria.

Haiku 430

Do pai que se foi
ficou a touca de lã
um tanto sem graça.

Kigô da semana

Banhos de sol

Haiku 429

O padre observa
caras novas na quermesse
tão raras na missa.

Haiku 428

Ao marcar encontro
na barraca da quermesse.
- Vapores da noite.

Haiku 427

O papel de seda
a compor as bandeirinhas.
Quermesse esperada.

Kigô da semana

Quermesse

Haiku 426

Que saudades tenho
da escolinha do interior
a roubar pitangas.

Haiku 425

Num novo trajeto
por cima do muro avançam
galhos de pitanga.

Haiku 424

Pitangas vermelhas
nos galhos pela manhã
enchem os meus olhos.

Kigô da semana

Pitanga

Haiku 423

Das flores expostas
os crisântemos sobraram
jogados ao chão.

Haiku 422

Na curva da rua
o vendedor de crisântemos
à espera de alguém.

Haiku 421

Em vasos aos montes.
Na entrada do cemitério
venda de crisântemos.

Kigô da semana

Crisântemo

Haiku 420

Na velha paineira
sombra para os vagabundos.
- Contador de casos.

Haiku 419

Perdido nas flores
paineira passou a tarde
nos olhos do velho.

Haiku 418

Em plena florada

paineira existirá ainda

depois de amanhã?

Kigô da semana

Paineira

Haiku 417

Um choro abafado
aos fundos do corredor.
Tarde outonal passa.

Haiku 416

Cada vez mais próximo
os fantasmas do passado.
Tarde outonal passa.

Haiku 415

 Na tarde outonal
coloco a xícara de chá
na vaga vazia.

Kigô da semana

Tarde outonal

Haiku 414

Nas tardes escuras
a chuva de outono cai
desfazendo sonhos.

Haiku 413

A chuva de outono
bem chegou logo se foi.
- Um funeral segue.

Haiku 412

Na grama que seca
nem mesmo a chuva de outono
traz vida de volta.

Kigô da semana

Chuva de outono

Haiku 411

Mastigando milho
num instante foi-se o dia.
A vida tão breve.

Haiku 410

Na pilha de milho
o menino aponta o dedo.
Os olhos dos outros.

Haiku 409

Na espiga de milho

o cabelo tão dourado.

Minha avó velhinha.

Kigô da semana

Milho

Haiku 408

Lá longe desponta
espantalho ao entardecer.
Primeiras estrelas.

Haiku 407

Num leve balanço
espantalho mexe os braços.
Alarde nos pássaros.

Haiku 406

Na roça de milho

no domínio do espantalho

os ladrões não chegam!

Kigô da semana

Espantalho

Haiku 405

Primeiro ano foi-se.
Sem festas apenas lembro
do Dia das Mães.

Haiku 404

No Dia das Mães
passo na casa dos outros
com a mãe dos outros.

Haiku 403

Sem nada fazer
o Dia das Mães passou
sem festas nem velas.

Kigô da semana

Dia das Mães

Haiku 402

Flor de manacá
despenca neste momento.
Um vale profundo...

Haiku 401

A tarde parada.
Um leve balanço agita
pé de manacá.

Haiku 400

Da casa vizinha
os manacás avançando
em minha janela.

Kigô da semana

Manacá

Haiku 399

Espalho no pátio
para os pássaros que chegam
figos em pedaços.

Haiku 398

A quem ofereço
o figo partido agora?
Amigos se foram.

Haiku 397

Ao final da feira
ao comprar figos fresquinhos.
Dedos das madames.

Kigô da semana

Figo

Haiku 396

Quem pode parar
orvalho neste momento?
Meus olhos ligeiros.

Haiku 395

Uma vida breve
a do orvalho nesse instante.
- O dobrar da folha.

Haiku 394

Acordo bem cedo,
Nos sapatos ao relento
orvalho da noite.

Kigô da semana

Orvalho

Haiku 393

A lembrança viva.
O periquito ficou
depois que se foi.

Haiku 392

Na boca do gato
as penas do periquito.
- Silêncio profundo.

Haiku 391

Periquito só.
É preciso companheira
o velho viúvo.

Kigô da semana

Periquito

Haiku 390

Salta o gafanhoto.
As pernas enfraquecidas
no avanço da idade.

Haiku 389

Pisoteado estava
o corpo do gafanhoto.
As velhas botinas.

Haiku 388

O menino brinca
alisando o gafanhoto.
- Tempos de carência.

Kigô da semana

Gafanhoto

Haiku 387

Da páscoa passada
não tenho boas lembranças.
Esta já passou.

Haiku 386

Domingo de Páscoa.
Quando todos se retiram
sobram pratos sujos.

Haiku 385

Os filhos se foram.
Sem peru nem maionese
Páscoa passageira.

Kigô da semana

Páscoa

Haiku 384

O leque batido
faz o tempo se apressar.
Meus cabelos brancos.

Haiku 383

Num casarão velho
o leque a movimentar-se
numa eternidade!

Haiku 382

No leque brandido
minha vida passageira
foi-se com o vento.

Kigô da semana

Leque

Haiku 381

O velho se foi.
Margaridas do jardim
deitadas ficaram.

Haiku 380

Diante das vistas
margaridas recolhidas
do jardim com dono.

Haiku 379

À mulher do lado
o que posso oferecer
senão margaridas.

Kigô da semana

Margarida

Haiku 378

Mordo a carambola
como tocasse uma gaita.
Que frescor sinto...

Haiku 377

Ao final da feira
carambolas que sobraram
têm dedos demais.

Haiku 376

Chupar carambola
de que lado começar?
Quem pensa não chupa.

Kigô da semana

Carambola

Haiku 375

Um cascudo apenas
menino guarda no balde.
Amigo até quando?

Haiku 374

Alguns apreciam
cascudo de aperitivo.
- Não me incluo nisto.

Haiku 373

Rápido na faca
foi-se de vez a cabeça
ao limpar cascudo.

Kigô da semana

Cascudo

Haiku 372

As cartas de amor
que escrevia a minha avó.
- Chuva de granizo.

Haiku 371

Chuva de granizo.
Enquanto balança a mãe
ressona o bebê.

Haiku 370

Puxo o cobertor
antes que o dia se faça.
- Chuva de granizo.

Kigô da semana

Chuva de granizo

Haiku 369

Sem vergonha alguma
folião assume de vez
as vestes da mãe.

Haiku 368

Numa foto antiga
o que sobrou do folião.
- Cara de palhaço.

Haiku 367

O folião se entrega.
Quatro noites quatro dias
a estourar sandália.

Kigô da semana

Folião

Haiku 366

A serpente morta

alimento para os pássaros

de penugem negra.

Haiku 365

Sem nenhum incômodo
permito passar primeiro
serpente que cruza.

Haiku 364

A serpente surge.
Mulheres fogem primeiro
os homens depois.

Kigô da semana

Serpente

Haiku 363

Caminho mais longo
conduz-me ao ponto final.
Aguaceiro chega.

Haiku 362

Após aguaceiro
espalhadas pelo chão
as rosas vermelhas.

Haiku 361

De um lado o aguaceiro
do outro um velório acontece.
Meus olhos confusos.

Kigô da semana

Aguaceiro

Haiku 360

Catado do pé
maracujá enche a sacola.
- Ausência do dono.

Haiku 359

Maracujá aos montes
grande na banca da feira.
Compro apenas dois.

Haiku 358

Em redes de plástico
maracujás pendurados
na banca de sucos.

Kigô da semana

Maracujá

Haiku 357

Os olhos mais rápidos.
Pernilongo a perfurar
a pele rosada.

Haiku 356

Somente coceira
do ataque dos pernilongos
em tardes de chuva.

Haiku 355

Antes da batida

o pernilongo se foi.

A dor mais profunda.

Kigô da semana

Pernilongo

Haiku 354

A folhinha nova.
Com um respiro fundo
ensaio um sorriso.

Haiku 353

Alguma mudança
ao por a folhinha nova
na parede branca?

Haiku 352

A folhinha nova.
Gostava tanto da velha
das rosas vermelhas.

Kigô da semana

Folhinha nova

Haiku 351

Cada vez mais fracas
as lâmpadas do presépio.
A igreja vazia.

Haiku 350

Quem faz companhia
ao presépio do jardim?
- As sombras da tarde.

Haiku 349

Presépio de arame
perdido na noite longa
deixou de brilhar.

Kigô da semana

Presépio